
“A noite é muito escura.
Numa casa a uma grande distância
brilha a luz de uma janela”.
Alberto Caeiro
Hora
Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar.
"Aquilo a que a lagarta chama fim do mundo, o mestre chama borboleta.
Não te afastes de possíveis futuros antes de teres a certeza que nada tens a aprender com eles. Todas as pessoas, todas as situações da nossa vida estão ali porque as criámos. Aquilo que temos a fazer com elas só depende de nós."
António Jacinto (1924-1991) Escritor angolano